Lendo esta matéria de uma mãe que invadiu uma sala de aula para agredir a professora lembrei do meu primeiro dia de aula na Rede Municipal do Rio de Janeiro, no longínquo ano de 1996…
A escola estava em obras e a janela basculante da sala de aula tinha sido retirada (estava só o buraco). Um aluno (Willian, nunca esqueço o nome dele) entrou por este buraco.
Pedi para ele voltar (pelo buraco e entrar pela porta). Ele disse que não sairia. Eu disse que sim que ele iria sair por onde entrou e fui para cima dele (felizmente ele recuou e saiu, porque eu não faria nada! E sim, foi uma atitude errada – uma interpretação equivocada do Foucault, o poder se encontra nas relações – de um jovem professor em início de carreira, que felizmente terminou sem desastrosas consequências!).
Ele estava no 6º ano do fundamental, na época, e deu muito problema para nós na escola… inclusive, certa vez, tentou agredir fisicamente uma professora. Dois de seus irmãos foram executados pela polícia militar, um deles na sua frente e dentro da sua casa.
Ele tinha até (lembrando agora em retrospectiva) algumas questões neurológicas… pois tinha dificuldade de escrever!
Mas nunca desistimos dele! Aos “trancos e barrancos” eu (e todos na Escola) fui (fomos) aprendendendo a lidar com ele.
Corta para 5 anos depois, na cerimônia informal de formatura do 9º ano que a diretora da Escola Municipal Ponte dos Jesuítas – D. Neuzi, como os estudantes a chamavam – sempre fazia.
Era algo símbólico! Um papel com uma mensagem afetiva rodada em mimeógrafo, mas feita com muito carinho!
Willian chegou atrasado na Escola (a cerimônia era no pátio). Ele bateu no portão que estava fechado e, por acaso ou sorte, eu fui atendê-lo. E ele com educação e candura na voz, perguntou se poderia entrar mesmo chegando atrasado!
Óbvio que ele entrou! E participou de toda a cerimônia.
Eu sempre me lembro do Willian quando tenho um estudante mais arredio e com problemas de adequação aos rituais e à rigidez das rotinas escolares.
O Willian me ensinou, muito antes de eu estudar formalmente sobre #inclusão, que é a Escola que precisa se adequar aos estudantes, e não os estudantes se adequarem à Escola.
Espero que o Willian tenha sobrevivido ao nosso sistema de moer gente!
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