A Prof. Marise mandou uma contribuição para usarmos em eventuais projetos do Ano Mundial da Física:
A ONU decretou 2005 como Ano Mundial da Física. O motivo não podia ser mais nobre. Em maio, a Teoria da Relatividade, de Albert Einstein, completará100 anos.Nesse período, inúmeros avanços deram a ciência muita sofisticação. Compreender essa evolução( e ensiná-la a seus alunos) requer noções sobre muitos conceitos. Não é tarefa simples, mas uma boa ajuda pode ser obtida na revista ComCiências(www.comciência.br), mantida pela sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e pela Universidade de campinas. A página traz textos que às dão idéias científicas uma leitura mais compreensível. O acesso é gratuito e você encontra excelente material sobre a física moderna, astronomia, genética, biodiversidade e informática”.
Uma segunda contribução:
Einstein & Newton: Gênios da Mesma Lâmpada
Por Alan Lightman
É possível medir o gênio de Albert Einstein?
Sob muitos aspectos, não é. Se retrocedermos através dos séculos, passando por figuras como James Clerk Maxwell, Ludwig Boltzmann, Charles Darwin e Louis Pasteur, teremos de chegar a Isaac Newton antes de encontrar outro ser humano cujas realizações científicas sejam comparáveis às de Einstein. Antes de Newton, pode ser que não haja ninguém desse nível.
Ambos os cientistas tinham intelectos que os levaram a dominar todos os campos conhecidos de suas disciplinas, e a ir além. Newton inventou o cálculo, formulou as leis da mecânica e do movimento, propôs uma teoria universal da gravitação. Einstein nos legou a fundação para os dois “edifícios” da física moderna, a relatividade especial e a mecânica quântica, e criou uma nova teoria da gravitação.
Os dois são responsáveis por novas visões de mundo. Hoje nos referimos ao universo “newtoniano” e ao universo “einsteiniano” – o primeiro é um mundo de absolutos, o segundo de relatividades. No universo newtoniano, o tempo flui inexoravelmente, sempre na mesma medida, agora e para sempre. Sem exceção, todo efeito tem uma causa. O futuro é perfeitamente previsível com base no passado. No universo einsteiniano, o tempo não é absoluto. O fluxo temporal depende do observador. Além disso, de acordo com a nova física quântica que Einstein ajudou a estabelecer, a despeito de suas reservas, as incertezas intrínsecas da natureza em nível subatômico impedem a previsão do futuro. As certezas devem ser substituídas pelas probabilidades.
Tanto Newton quanto Einstein eram basicamente físicos teóricos. Como muitos de seus colegas, eles realizaram seus principais trabalhos por volta dos 20 anos de idade. Ambos faziam experimentos. Newton, de longe o mais habituado a eles, descobriu, entre outras, que a luz branca é composta de uma mistura de cores. Newton inventava a matemática da qual precisava. Einstein não, mas sua brilhante intuição o levou a estudar e adotar a obscura geometria não-euclidiana de Riemann e Gauss.
Ambos eram artistas. Os dois se dedicaram à simplicidade, à elegância e à beleza matemática. Como artistas, preferiam trabalhar em isolamento. Newton desaparecia por meses quando estava desenvolvendo um novo projeto. Einstein nunca teve alunos de pós-graduação e raramente lecionava. Ambos eram pessoas isoladas, principalmente Newton. Ele parecia muito anti-social, e, como Voltaire observou quando morreu, “no curso de sua longa vida (Newton) não teve nem paixões nem fraquezas; nunca se aproximou de uma mulher”. O inglês chegou mesmo a formular um plano para preservar o celibato: “O caminho para a castidade é não lutar contra pensamentos lúbricos, mas evitá-los com trabalho, leitura ou meditação”.
Einstein, no fim da vida, envolveu-se com muitas causas sociais. Colaborou com a Liga para os Direitos Humanos, pronunciando diversas conferências por todo o mundo sobre política, filosofia e educação. Também ajudou a fundar a Universidade Hebraica de Jerusalém. Einstein teve muitos relacionamentos românticos, mas, parece ter sido tão solitário quanto Newton. Em ensaio publicado em 1931, aos 52 anos, escreveu:
Meu sentimento apaixonado por justiça e responsabilidade social se opõe, curiosamente, à minha pronunciada falta de necessidade por contato direto com outros seres humanos e mesmo com comunidades humanas. Sou um “viajante solitário”; na verdade, nunca pertenci ao meu país, à minha casa, aos meus amigos ou mesmo à minha família.
Isaac Newton e Albert Einstein deixaram legados profundos. Newton superou a idéia de que algumas áreas do conhecimento eram inacessíveis à mente humana, enraizada por séculos na cultura ocidental. Antes de Newton, acreditava-se que a humanidade poderia compreender apenas o que Deus permitiu revelar. Adão e Eva foram banidos do Éden por terem comido da árvore do conhecimento. Zeus acorrentou Prometeu num rochedo quando ele deu o fogo, um segredo dos deuses, a um mortal.
Quando Adão, no Paraíso Perdido de John Milton, questionou o anjo Rafael sobre a mecânica celeste, Rafael lhe deu uma vaga idéia e então disse que “o resto, de homens ou de anjos o grande Arquiteto sabiamente ocultou”. Todas essas limitações foram abolidas com o monumental trabalho de Newton, os Principia (1687). Nessa obra, o cientista examinou todos os fenômenos do mundo físico conhecido: dos pêndulos às molas, dos cometas às grandes trajetórias dos planetas. Depois de Newton, a divisão entre o espiritual e o físico ficou mais clara. Este último se tornou cognoscível para os seres humanos.
Einstein, com seus extraordinários e aparentemente absurdos postulados sobre a relatividade especial, demonstrou que as grandes verdades da natureza não podem ser alcançadas apenas pela observação do mundo externo. Em vez disso, os cientistas devem, algumas vezes, começar a inventar, dentro de suas próprias mentes, hipóteses e sistemas lógicos que somente mais tarde poderão ser testados experimentalmente. Toda a nossa experiência nos faz pensar que o tempo flui uniformemente, embora isso não seja verdade. A física moderna tem avançado para uma compreensão da natureza além da percepção sensorial e da experiência humana, ensinando que nosso bom senso pode estar errado. Einstein subverteu séculos de um pensamento fundamentado na supremacia do estudo empírico e da experiência. Ele também contestou o famoso dito de Newton: Hypotheses non fingo (“Não imagino nenhuma hipótese”), no qual o cientista inglês afirmava que não era um filósofo como Aristóteles, mas um cientista que baseava suas teorias nos fatos observados.
Em sua autobiografia, Einstein expressou seu distanciamento de Newton da seguinte maneira: “Newton, perdoe-me; você descobriu o único caminho possível para um homem de sua época com idéias tão elevadas e tal poder criativo. Os conceitos que criou ainda hoje guiam nossas idéias sobre a física; entretanto, agora sabemos que esses conceitos devem ser substituídos por outros, mais distantes da esfera da experiência imediata”.
Numa introdução da edição de 1931 da Óptica de Newton, Einstein escreveu: “A natureza, para ele, era um livro aberto (…) Em uma mesma pessoa, conviviam o pesquisador, o teórico, o mecânico e também o artista (…) Diante de nós ele permanece forte, incontestável e solitário”. Se Newton pudesse ressurgir do passado, por truque proibido de viagem no tempo, provavelmente proferiria palavras semelhantes sobre Einstein.
Alan Lightman é físico e romancista.
Fonte: Revista Scientific American Brasil. edição Nº 29 – outubro de 2004
sou fã fe Albert Einstein e gosto muito de tudo sobre ele.
Symarah.